O PRINCIPAL APRENDIZADO DO SXSW INTERACTIVE 2015?
Ontem foi o último dia de palestras do SxSW Interactive e o primeiro do SxSW Music. Desde então, foi possível reparar o início da troca do público com a chegada de mentes ainda mais criativas, artísticas (e mais cabeludas) pelos quatro cantos do Festival.
Na segunda à noite, enquanto decidia quais seriam as últimas palestras que veria, escolhi investir o meu tempo em algo diferente e desafiador: participar de uma aula para aprender a programar em linguagem Python. Quatro horas seguidas escrevendo linhas de código e tentando vencer a minha “coding illiteracy”.
Quando comecei a me interessar pelo assunto, fui obrigado a sair da sala para ir para o aeroporto. No caminho, uma empreendedora australiana que estava participando do evento (fazendo reuniões sobre sua startup) começou a puxar papo e me perguntou qual tinha sido o meu maior aprendizado.
“Meu maior aprendizado? Hum…”. Fiz uma pausa longa e comecei a compartilhar todas as coisas incríveis que vi e vivi. Porém, de todas, nenhuma era tão impactante a ponto de ter me marcado mais do que as outras para ganhar o título de maior aprendizado. E essa incapacidade de sintetizar a minha resposta em curtos e objetivos 140 caracteres começava a me incomodar. Foi quando, de repente, me veio à lembrança a pior palestra de que participei durante os dias de SxSW. “Encontrei minha resposta”, pensei. E afirmei que meu maior aprendizado deste ano não tinha sido sobre o que mais gostei; pelo contrário, foi sobre o que mais odiei.
A primeira palestra que assisti na segunda-feira era intitulada “Evoluir ou morrer: a revolução da indústria da publicidade tradicional”. Como palestrantes, quatro executivos de mercado, sendo três deles diretores e VPs de grandes agências globais pertencentes a grandes grupos multinacionais, com vasta experiência de mercado, trabalhando para as Marcas mais valiosas dos EUA e do mundo.
Esperamos assistir no SxSW o que existe de mais inovador e o que está na crista da onda sobre o tema exposto. Sabemos que o evento é bem rigoroso quanto à curadoria de conteúdo, temas e palestrantes, mas o que vi foi bem diferente.
O que ficou pra mim de maior aprendizado foi que a big-global-traditional-advertising agency não é mais o que era no passado, a go-to place quando um cliente queria trabalhar a sua Marca. Cheguei a essa conclusão porque confio e acredito na curadoria do SxSW e porque se aqueles palestrantes, com auditório cheio, estavam prontos para falar sobre um tema é porque certamente dominavam o assunto mais do que os seus pares de mercado.
Ouvi quatro grandes executivos discursarem sobre o quanto são inovadores, pois, antes, os criativos pensavam no conceito da campanha e só depois terceirizavam essa parte para a turma do digital, na implementação. Agora, eles trabalham com o pessoal de forma mais integrada, incluindo-os no início do processo para planejar melhor a parte social e de conteúdo.
Para eles, isso é colocar o “digital no centro das coisas”. Para mim, isso é uma proposta de solução rasa sobre o digital e a mudança que ele traz para a dinâmica da construção e gestão de Marcas fortes no mundo superconectado em que vivemos.
O maior desafio (não só para as Marcas, mas para as agências de Publicidade, de Branding e consultorias) não é tecnológico, nem de escopo; é de visão. Tem uma frase de Proust que diz: “The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes but in having new eyes.”
As Marcas não precisam estar em todas as redes sociais ou adotar todas as últimas tecnologias e desenvolver vários aplicativos para que, em cada nova campanha publicitária, as pessoas consigam ver consistência em cinquenta canais diferentes. Não é nada disso. O que as Marcas (e os profissionais que pensam Marcas) precisam é de um “Digital Rehab”: um reboot, um upgrade no pensamento e na visão sobre o papel da tecnologia e o que verdadeiramente pode ser uma possibilidade real de fazer a diferença na vida das pessoas.
Está tudo mudando tão rápido que planejar Marcas com a visão do mundo como ele é hoje significa construir estratégias que já nascem ultrapassadas e fadadas a não atingir todos os resultados que poderiam.
Ela (a australiana que mora em Nova York) balançava a cabeça concordando comigo e dizendo que, quem sabe, no ano que vem veríamos mais avanços nesse assunto. Então, a resposta a gente encontra no SxSW do ano que vem. Até lá!